segunda-feira, 26 de maio de 2008

Escolher Travões para BTT

V-Brakes versus Disco?...

Na minha opinião apenas acho que é uma questão de gosto...enfim, mais ou menos: Já utilizei os pés, ferraduras, cubos contra-rotação, cantilevers, v-brakes, disco mecânico e disco hidráulicos...
Os últimos 3 últimos são sem dúvida os mais eficazes para uma utilização de off-road, ou melhor de BTT... se bem, que qualquer um sirva para o efeito...travar.

Diferenças? Bom, têm claro, mas também não existem diferenças nas bikes?
Desde o DH, FR, Dirt, XC, quadros HT a FS... enfim, tudo o que a gente possa querer e ao nosso gosto.... as vantagens de uma economia de mercado.... no entanto, todas elas podem levar um mau tratamento nas diversas utilizações. Diferenças na capacidade de travagem entre eles?... depende de diversos factores, desde o ambiente onde corres, passando pelo estado do material e acabando na tua capacidade de os afinar convenientemente...
Bom... após, fazer uma auto-análise (de mais de 20 anos a andar de bike – tenho 37), onde utilizei como factores de avaliação, a eficiência, a manutenção e sem dúvida o preço, fiquei-me pelas seguintes conclusões, no que diz respeito a uma utilização generalizada em BTT dos 3 tipos de travões.

V-Brakes

Manutenção
Travões V-BrakesRelativamente barata, sendo simples de efectuar, mas não muito precisa devido aos diversos factores a ter em conta na capacidade de travagem: Estado e tipo dos calços, estado da pista de travagem do aro, e dimensões e ângulos de afinação – vertical, horizontal e a 360º dos calços; horizontal e de pressão nas molas de pressão de cada suporte.
V-Brakes versus Disco?...


Eficiência de travagem
Extremamente eficaz com tempo seco, se bem afinado e se utilizados calços e mecanismos a partir de médio valor... aconselho compostos de média rigidez nos calços, por questões de temperatura e desgaste.
Com tempo húmido, em condições de muita água e lama, conseguem ter eficácia substancial se se tiver em atenção a constante limpeza e aquecimento dos calços e pista de travagem... dois pormenores importantes que aumentam a eficiência nestas condições, são os calços de baixa rigidez e pistas de travagem dos aros com reentrâncias longitudinais, que à semelhança de um pneu de um carro, dispersam a água evitando a película que provoca o deslizar excessivo. Este último pormenor da pista de travagem, também se traduz em eficiência com tempo seco, pois dispersa a temperatura excessiva.

Preço
Baratos em compra do sistema, na manutenção e nos consumíveis.

Travões de Disco Mecânicos

Manutenção
Travões de Disco MecânicosBarata, simples, rápida de efectuar e bastante precisa, sendo necessária apenas uma chave em certos fabricantes, e duas na maioria deles (mais alicate nos Shimano). Apenas necessita de afinação horizontal dos calços e sistema de pinça. É possível utilizar uma mão para afinar e outra para segurar a bicicleta... experiência própria com Hayes MX-III.

Eficiência de Travagem
Bastante eficazes em qualquer tempo, quando bem afinados. Vão perdendo alguma eficiência (valores dependentes do composto dos calços) com temperaturas elevadas, (velocidades elevadas, pesos elevados) sendo possível regular de certa forma esse factor com a utilização de rotores (discos) maiores. Os calços têm um desgaste elevado e muito prematuro em condições de água e lama (areias) e quando, nestas condições, levados a extremos de pressões, nomeadamente no que diz respeito ao calço fixo.
Óleo proibido perto destes travões, os calços ficam inutilizados no contacto com o óleo pois vão absorvê-lo destruindo a sua capacidade de atrito.
Exigem uma força ligeiramente mais elevada na pressão da manete, do que os V-Brakes, devido à Lei do Movimento Angular... tem haver com os diferentes binários existentes na roda... quanto mais perto do cubo menor o binário, logo mais energia necessária para fazer parar a roda, quanto mais longe maior o binário, menos energia necessária.
Muito precisos e directos. O travão de trás normalmente é menos directo, ou mais progressivo, que o da frente devido a extensão do cabo que dispersa, ao esticar, as forças exercidas na manete. No entanto, sendo o que está na roda menos sujeita aos vectores de forças de movimento do total do conjunto, é o que bloqueia mais facilmente, contrabalançando esta divergência.

Preço
Relativamente baratos na aquisição do sistema de travagem (mais caros que os V-brake em componentes de gama idêntica), baratos na manutenção e consumíveis.

Travões de Disco Hidráulicos

Manutenção
Travões de Disco HidráulicosCara, relativamente difícil, e demorada, exige prática. Necessários vários acessórios e cuidados especiais no manuseamento do óleo pelas questões indicadas acima.
Afinação de pastilhas, alterada com a quantidade óleo no sistema. Por conseguinte, possuem auto-afinação, não sendo necessário mexer até acabarem.

Eficiência de Travagem
Bastante eficazes em qualquer tempo. Vão perdendo alguma eficiência (valores dependentes do composto dos calços) com temperaturas elevadas, (velocidades elevadas, pesos elevados) sendo possível regular de certa forma esse factor com a utilização de rotores (discos) maiores. Sofrem de mal da temperatura, devido ao óleo que perde eficiência com esta.
Os calços têm um desgaste elevado e muito prematuro em condições de água e lama (areias) e quando, nestas condições, levados a extremos de pressões.
Relação perigosa - Óleo e travões de disco. Óleo proibido perto destes travões, os calços ficam inutilizados no contacto com o óleo pois vão absorvê-lo destruindo a sua capacidade de atrito, nomeadamente devido à baixa gama de forças em questão, ao contrário do que acontece com os carros, que pouco sofrem com a existência de óleo nos discos e calços já que as forças necessárias e exercidas para os fazer parar são imensamente mais elevadas.
Devido ao sistema hidráulico, exigem pouca força na pressão da manete, sendo por isso mesmo progressivos, sendo possível “afinar” esse factor utilizando óleos de viscosidade diferentes.

Preço
Comparativamente aos seus adversários peca pelo extremo exagero, talvez pela “miniturização” exigida num componente hidráulico tão pequeno.

Conclusão

Face a isto, apenas posso dizer que é tudo um pouco uma questão de gosto e da utilização que se vai ter.

Pessoalmente considero os discos superiores aos V-brakes em eficiência geral, apenas por causa da melhor eficiência em situações de água e lama e apenas por isso e nada mais.
Dos discos e tendo em conta os factores apresentados de preço, manutenção e do risco sempre iminente das fugas de óleo para os rotores e calços, considero os mecânicos a opção mais inteligente.
As vantagens de auto afinação, de progressão e de potência acrescida, que diga-se não é muito maior, não me parecem suficientes para suplantarem a simplicidade e preço dos mecânicos.

Aliás, permitindo-me alongar ainda mais, gostaria de deixar a minha opinião relativamente aos travões de disco hidráulicos:

A engenharia hidráulica é, de certa forma, orientada para a compensação de esforços em sistemas que utilizam níveis de força e pressões elevados, como é o caso dos sistemas de travagem dos carros ou motas. No caso das bicicletas, talvez com a excepção do DownHill, a utilização dessa componente hidráulica nos sistemas de travagem, torna-se um pouco desproporcionada já que as forças necessárias à paragem de sistemas, digamos, de no máximo 100Kg a velocidades de, no máximo 45 Km/hora, são facilmente produzidas pelo fechar de uma mão humana... o acto de pressionar a manete das mudanças.

Ora, como é evidente, não estou a afirmar que o hidráulico não será melhor. Pelo contrário, o hidráulico é, na minha opinião, o melhor sistema quando se fala em contrariar forças. Não o será, no entanto, quando se tratam de forças menores, já que implica um custo mais elevado e uma manutenção mais complicada.

Tendo em conta a forma como o mercado funciona, só se justifica o aparecimento dos sistemas de travões hidráulicos nas bicicletas, por questões puramente de marketing. Somente por ser o BTT uma actividade cujo componente de lazer suplanta em muito a componente de competição desportiva, sendo esta ultima inclusivamente orientada e apoiada pelas marcas por questões meramente económicas, se justifica a utilização de sistemas incrívelmente mais dispendiosos para diferenças de rendimentos desprezíveis.

Uso o sistema de discos mecânicos por questões estéticas, pois a bicicleta fica com um aspecto mais “racing”, por se suplantar em questões de eficiência “all weather and all terrain” aos V-Brakes e porque o rácio preço/rendimento/manutenção é justificável.

Espero ter ajudado em alguma coisa ... boas pedaladas!!!

Fonte: J. Bastos
in Abrasar

2 comentários:

Jay Jay disse...

Excelente resumo para inciados no assunto. Muchas gracias! ;)

João F. disse...

Muito bom este artigo. Resumiu tudo o q precisava saber para escolher acertadamente tendo em conta o binómio qualidade/custo. Obrigado.