terça-feira, 1 de março de 2011

Ciclocross no Ciclismo do F. C. Porto, memórias desaparecidas...

Nestes dias de inverno e no curto período que passa sem o sal da participação competitiva da equipa principal de futebol do F. C. Porto (até à próxima quarta-feira europeia, como se sabe), será tempo de mitigar lembranças de raridade relacionada com uma das modalidades que são saudade do antigo ecletismo Portista, o ciclismo, reportando a uma sua variante de inverno – o chamado “Ciclocross”, que era um tipo de corrida ao jeito de corta-mato em bicicleta. Hoje apenas uma recordação para os mais velhos, antigos atletas ou amantes de história do desporto dos pedais.Pois, em tempos passados, detinha atenções na época de inverno essa especialidade ciclista, aproveitada na transição do defeso das competições e preparação de pré-época, sendo então o Ciclocross uma vertente do ciclismo de estrada que tinha grande importância, vinda dos alvores da prática do ciclismo, embora em Portugal tivesse tido apogeu mais nas décadas de cinquenta e sessenta, pelo menos, até finais dos anos oitenta, do século XX. A adesão era de tal maneira que, durante anos afio, havia Campeonatos Regionais e Nacionais muito disputados.Era uma maravilha, dentro do encanto que pairava naqueles românticos tempos de meio do século passado, esses e outros acontecimentos, revertendo ao caso desta modalidade tão antiga, praticada só nos meses invernosos, quando o ciclismo ainda não ia para a estrada (antes do começo da época das corridas de longos percursos pelas estradas fora, quer as domingueiras da Associação, como depois os Grandes Prémios em etapas).

Nesse período a actividade ciclista era efervescente, nas provas em que os ciclistas tinham de vencer dificuldades em vias estreitas e acidentes naturais dos percursos, subindo e descendo ladeiras, montando nas bicicletas em terrenos enlameados, passando por escadas e até penedias, sendo inclusivamente obrigatório a existência de zonas que obrigavam a desmontar da bicicleta, tudo num autêntico fortalecimento muscular. Figuras ilustres desses tempos, de ciclistas de nomeada, integravam com sucesso tais provas, cujas imagens que sobrevivem mais parecerão jurássicas, à luz das vistas actuais.

Ora, como na época o F. C. Porto detinha certo poderio no ciclismo, o Ciclocross fazia parte do calendário dos ciclista azuis e brancos, também, havendo diversos ciclistas Portistas que eram especialistas, com relevo para os mais poderosos fisicamente, pelo desgaste que provocava e força muscular necessária. Acontecia, porém, que como no sul do país não havia muitos corredores especializados nisso, nem gostavam muito porque era um desporto onde se sujavam, com lama e poeira misturadas ao suor, a partir de determinada altura o Ciclocross passou a ser mais apreciado no Norte, sucedendo-se as provas a nível regional e nacional em terrenos da urbe portuense, como por exemplo nos carreiros do parque do Palácio de Cristal, ou noutros sítios apropriados nos arredores da Invicta. E, entre os diversos corredores de tarimba dessas corridas de “cross”, lembramo-nos que sobressaía especialmente Joaquim Leão, corpulento ciclista que venceu a Volta a Portugal em 1964, a prova-rainha de estrada, e foi durante anos campeão Regional e Nacional de Ciclocross, como também José Pinto, José Azevedo, Alberto Carvalho, e outros mais.Em homenagem dessas curiosas lembranças, são precisamente de Joaquim Leão as imagens que se juntam, inicialmente (ao cimo do artigo) com a camisola tradicional do F. C. Porto, e, nas restantes duas, com ele em plena competição e ao findar de uma das suas vitoriosas corridas em tal terreno, já com uma outra camisola que chegou a ser usada pelo ciclismo do F. C. Porto, em ocasião que houve tentativa de aproximação da imagem do clube, na modalidade, aos equipamentos então já usados pelas equipas das marcas patrocinadoras.

Actualmente, o ciclismo cada vez mais tem perdido preponderância no panorama desportivo português, primeiro com o abandono dos clubes grandes da modalidade e depois com os casos de doping e outros que tais, e, extensivamente, também entretanto foi perdendo lugar o Ciclocross, tendo desaparecido praticamente esta referida variante temporã (salvo raras excepções, como ultimamente este género do ciclismo está a ser reavivado na Associação de Ciclismo do Porto, contudo ainda muito tenuemente). Enquanto, em sentido inverso, pela Europa é uma variante ciclista que foi crescendo sempre, inclusivamente a sua prática continua ultrapassando oceanos, embora nos dias de hoje o Ciclocross seja disputado em condições mais amenas e circuitos menos puxados. Diferindo, note-se, de outras variantes modernas, como as corridas de BTT e demais, disputadas com diferentes géneros de bicicletas.Todas as épocas têm os seus conceitos e efeitos predilectos, como curiosidades destas demonstram, traduzindo valores como os que assim se procura transmitir, agarrando saberes ancestrais dos que se mostram caducos e novos dos que se podem (re)construir…!


Autoria:
Armando Pinto
http://longara.blogspot.com/

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